Esquerda - Conteúdo.

Navegação Via Teclado e Leitores de Tela.

Marco Antonio de Queiroz (MAQ).

Navegação via Teclado.

Nesse texto, procurarei dar uma noção, como pessoa com deficiência visual*1, do que seja a navegação via teclado e a lógica nela embutida, além de como funciona um leitor de tela*2, para que os desenvolvedores de páginas da Web entendam, menos superficialmente, nossas dificuldades e facilidades no uso da internet.

No caso dos leitores de tela para deficientes visuais, as informações contidas na página não são exatamente obtidas pelo que aparece na tela, mas sim através do código por detrás dela e que a produziu. Se por acaso o código que está espelhando algo na tela for um código fechado, os leitores de tela serão incapazes de fazer a leitura e, ao contrário, se for um código aberto e dentro dos padrões web, o máximo possível de informações poderão ser sonorizadas e funções existentes na página poderão ser executadas pelo teclado.

É bom observar que, entre os vários softwares para pessoas com deficiência, existem qualidades diferentes na capacidade dos mesmos para traduzirem os códigos em informação inteligível. Dessa forma, as regras internacionais de acessibilidade não se baseiam no que há de melhor nesses programas, mas em diretrizes de acessibilidade genéricas, que podem ou não serem aproveitadas por eles, dependendo da qualidade de cada um.

Assim, um mesmo código pode estar acessível para um software e inacessível para outro. Procurarei mostrar a acessibilidade que podemos fazer levando-se em conta as diretrizes gerais e internacionais de acessibilidade WCAG - WAI, W3C Site Externo. e não a de um leitor de tela, linha Braille ou software de comando de voz específico, de maneira a ampliarmos o máximo possível o trabalho de acessibilidade, para que a maioria das pessoas o desfrute.

A acessibilidade de uma página, no caso de softwares específicos para pessoas com deficiência, porém, não descansa no fato de tais softwares ajudarem a navegar ou reproduzirem o que aparece na página, mas também na execução de tarefas disponíveis nela, mesmo porque, algumas pessoas com deficiência, não necessitam desses softwares, só se utilizando da navegação via teclado, oferecida por seus browsers.

Assim, o preenchimento de formulários, envio de e-mails, pesquisa por palavras, respostas a enquetes, e coisas do gênero, precisam ser executadas através desses mesmos softwares, como na simples navegação via teclado.

Por essa causa, dizemos que não basta incluirmos na codificação de uma página elementos e atributos que a torne acessível, mas penetrarmos também na lógica da utilização da navegação via teclado, para que a utilização da página fique fácil e confortável. Fazendo-se isso, o conceito de acessibilidade une-se ao de usabilidade.

Se confeccionarmos páginas navegáveis via teclado pelas conseqüentes teclas de atalho, e se criarmos uma boa usabilidade das mesmas, atingiremos um percentual de acessibilidade bastante bom para a navegação por pessoas com deficiência, como cegos, tetraplégicos, alguns níveis de paralisia cerebral e outros, além de podermos deixar a navegação mais rápida, fácil e eficiente para todos, com o chamado desenho universal, o que inclui pessoas sem deficiências sensoriais, motoras ou cognitivas.

Se beneficiarão da acessibilidade e da usabilidade, pessoas consideradas usuárias comuns, além daquelas que, por alguma razão, estejam com uma conexão lenta, sem mouse ou com dificuldade de utilizá-lo, com telas pequenas, como nos celulares, etc., ficando as páginas além de mais fáceis de serem navegadas, também mais rápidas de serem carregadas. Isso se deve também ao fato de que, em acessibilidade, é sugerido o desenvolvimento da página dentro dos padrões web, com um código semântico e com a separação entre conteúdo, apresentação e comportamento.

Algumas pessoas com deficiência necessitam de um nível diferenciado de acessibilidade, como é o exemplo de pessoas com deficiência visual, que precisam de equivalentes textuais para as imagens, e os surdos, que necessitam os mesmos equivalentes textuais, só que para o som. Como por exemplo, um aviso textual de que existe música de fundo em uma página, pois o surdo pode incomodar as pessoas em torno dele ao entrar numa página e não saber que está reproduzindo sons para todo o ambiente.

Teclas de Atalho - Navegação Via Teclado.

A navegação via teclado, usada por todos aqueles que não conseguem utilizar-se do mouse de forma adequada, ou mesmo simplesmente não conseguem se utilizar deles, não são teclas produzidas por um software especial, mas, principalmente, teclas ou combinação de teclas oferecidas pelo próprio browser, e também aquelas criadas pelo desenvolvedor da página.

Quando for desenvolver um código, procure estruturar a página de forma lógica. Tenha sempre em mente que a navegação poderá ser efetuada através do teclado, que o deslocamento do foco nos links e objetos da página, por padrão, se dará de cima para baixo e da esquerda para a direita, e que as tags (etiquetas) são lidas seqüencialmente pelos browsers e softwares.

As teclas de atalho já existentes nos navegadores podem ser conhecidas e utilizadas independentemente da existência de leitores de tela, como as teclas de atalho do Internet Explorer, as teclas de atalho do Firefox. ou as teclas de atalho do Chrome.

Se levarmos em conta as teclas de Atalho dos navegadores, poderemos exemplificar como uma pessoa com dificuldade de coordenação motora, mas com perfeita acuidade visual, que se utiliza da navegação via teclado, faria para ultrapassar menus, geralmente colocados à esquerda em frames, em tabelas, ou mesmo como estrutura de páginas padrão, onde esses aparecem primeiro que o conteúdo da página.

Na seguinte página que, independentemente de sua técnica de codificação, apareceria sequencialmente assim:

 

Missão
Quem somos
Fórum
Princípios
Desenho universal
Informativos
Artigos
Entrevistas
Eventos
Notícias
Imprensa
Tecnologias de apoio
capacitação
Serviços
Cursos
Contato
Parceiros
Balanços 2002
2003
2004
2005

início do conteúdo de "Contato".

Endereço:
Rua Barão do Rio Branco, 404 - sala 502/503 - centro.
Rio de Janeiro - RJ - Brasil. CEP: 20222-010.
Telefax: +55 (21) 2240-1844 (hipotéticos)

Webmaster: webmaster@empresa.com.br
Comunicação Social: csocial@empresa.com.br

Fim da página e do conteúdo.



Vamos imaginar que nosso amigo acima, usuário da navegação via teclado, enxergando de forma comum, tenha entrado no link cujo título era: "contato". Na navegação via teclado do Internet Explorer, e da maioria dos browsers, ele pode navegar, passando pelos links, utilizando-se da tecla "TAB". Dessa forma, se os links estão à esquerda, ou acima, ele pode experimentar a angustiante necessidade de pressionar 20 vezes a tecla "TAB" para ultrapassar os menus e chegar ao lado direito da tela, pois esse é sempre posterior ao lado esquerdo na navegação seqüencial do teclado. Ele está vendo o que quer à direita, que é o contato com o Webmaster, mas só pode chegar lá pelo teclado, pois não usa o mouse, que direcionaria diretamente ao seu objetivo. Pelo Internet Explorer e, neste caso, também pelo Firefox, ele poderia teclar "control + end" e chegaria ao final da página e, "shift + tab" para navegar de trás para frente, ou do final para o começo, nos links, até chegar no envio de e-mails, ou no endereço desejado. Quando se faz acessibilidade com usabilidade, além dele poder ter essa opção, poderia-se criar uma forma especial de, através do teclado, ele poder pular todos os menus e ir diretamente ao conteúdo da página. No caso de uma pessoa com deficiência visual, além disso, teria-se de deixar todas as imagens, caso existissem nos menus, com equivalentes textuais, que "dissessem" a ela a mesma coisa que dizem para quem enxerga.

As teclas de atalho são ferramentas especiais em acessibilidade, quer sejam do browser, quer sejam feitas pelo desenvolvedor da página, quer sejam disponíveis pelo software específico de acesso.

Essas são noções básicas para o entendimento das dificuldades que podem ser ultrapassadas quando se faz acessibilidade numa página. O bom profissional que deseje fazer o melhor de acessibilidade e usabilidade, ainda pode, para entender o máximo possível a lógica da navegação via teclado, ou mesmo para testar seu trabalho de acessibilidade, navegar pela Web sem seu mouse, para entender como, algumas vezes, não se tem como realizar a navegação ou se utilizar de serviços, tão fáceis de se produzirem com ele. Além disso, se quiser ir mais fundo, se utilizar também dos softwares específicos, como os leitores de tela para pessoas com deficiência visual, para ver, e escutar, onde o acesso está fechado para nós. Perfeito, então, seria desligar seu monitor, navegar via teclado e, adquirindo uma cegueira virtual, entrar bem fundo nas necessidades do acesso. Isso seria o ideal, apesar de estar longe do que podemos esperar!

Leitores de Tela.

*1 - É sempre bom observar que esse texto está se referindo à navegação por via do teclado e também leitores de tela, mas que acessibilidade web não se restringe somente a pessoas com deficiência visual, cultura impregnada no Brasil e completamente equivocada. Tal cultura acabou por ser legalizada através do decreto nº 5.296 Site Externo. e, mesmo assim, se o formos cumprir, não se pode esquecer das pessoas de baixa visão, atendidas pelo decreto. Nesse caso, temos de levar sempre em conta o contraste entre cores de fundo e texto, tanto da página web quanto de suas imagens e logomarcas. Porém, mais que acessibilidade para pessoas com deficiência visual, devemos criar sites acessíveis para todos. Algo sobre o tema em: a importância dos padrões web para a acessibilidade de sites.

*2 Ledor de tela ou Leitor de tela?
Segundo o dicionário do Aurélio, não há diferença entre ledor e leitor, mas, entre nós cegos, costumamos nos referir a ledor àquele que Lê para o outro, enquanto o leitor lê para si mesmo. No entanto, o W3C se refere aos nossos softwares específicos como leitores de tela. Em inglês chama-se screen-reader.

Disponibilizado em: 04/04/2008.
Atualizado em: 19/12/2007.