Esquerda - Conteúdo.
Designer: Acessibilidade é Bom Pra Você Também.
Frederick Van Amstel.
www.usabilidoido.com.br
A acessibilidade deve estar em todo lugar que passamos. Você pode não saber exatamente o que é acessibilidade, mas certamente já precisou dela um dia. Se você já quebrou a perna e teve que subir uma escada de muletas, sabe a falta que faz uma rampa para uma pessoa que tem de usar muletas a vida inteira.
Quando você era criança, você queria ligar no orelhão pra passar trote e não conseguia porque era muito alto. "Telefone é coisa de gente grande", diziam os adultos, mas e quanto aos adultos que usam cadeira de rodas e precisam fazer uma ligação urgente?
Neste momento, enquanto você lê esse texto, você pode achar que a fonte está grande ou pequena demais para a sua vista. Se você tem um mouse com rodinha de rolagem, você pode segurar a tecla Ctrl (Windows) ou Command (MAC) e girar a rodinha; o texto vai aumentar ou diminuir de acordo com a sua vontade. Legal isso né?
Mas e se você não tivesse como usar o mouse? Sim, pode ser que você não tenha nascido com dificuldades motoras, mas pode adquiri-la futuramente se quebrar um braço, se for alcoólatra, se vier a sofrer de Parkinson e etc. Nesse caso, basta usar as teclas Ctrl ou Command combinadas com as teclas + ou - para ter o mesmo efeito.
Essas opções de acessibilidade estão embutidas no seu software navegador, mas se eu tivesse bloqueado a mudança do tamanho do texto usando uma medida fixa para a fonte, pode ser que você não conseguisse usá-las.
Porque eu faria isso? Ora, pra que meu
layout fique sempre igual do
jeito que eu quero e quem não conseguir ler, que
diminua a resolução do monitor. Ou talvez eu faça
isso porque é mais fácil. Se usar um tamanho de fonte
relativo, terei que garantir que todo
o layout se
ajuste
,
o que daria um trabalhão e os clientes não
iriam me pagar o extra. Não vale à pena.
Economizando desse jeito, logo consigo juntar uma grana pra comprar um PDA com acesso à Internet. Abro este site no navegador do PDA pra mostrar pros meus amigos e o danado do site fica todo desconjuntado porque eu mesmo defini que ele é "melhor visualizado com Internet Explorer 6.0, 1024x768 pixels de resolução e Flash Player versão 9 instalada". A vergonha dá pra disfarçar com uma desculpa esfarrapada, mas e se fosse uma situação crucial na qual eu precisasse muito das informações do site?
O fato é que, mais cedo ou mais tarde, seremos vítimas das barreiras que nós mesmos criamos. Se é assim, por que não se esforçar para evitar as barreiras? Nós saímos ganhando com isso; nossos amigos saem ganhando com isso; pessoas que nem conhecemos saem ganhando com isso; enfim, a sociedade como um todo sai ganhando com isso.
Oxo: exemplo de sucesso
Sam Farber tinha uma fábrica de utensílios
domésticos chamada Copco nos Estados Unidos.
Ele sempre se preocupou em criar produtos acessíveis para pessoas
idosas e com deficiências físicas, mas isso não era
o foco da empresa. Quando se aposentou, ele e sua esposa passaram
algumas semanas na França e os utensílios à
disposição eram terríveis para quem tinha artrite
como a esposa de Sam. Sam decidiu voltar à ativa e fundou a
Oxo International
com a proposta de
design universal
como missão da empresa. Os novos produtos
ganharam visibilidade na mídia e cairam no gosto popular.
Mesmo quem não tinha nenhuma deficiência, preferia comprar
Oxo pela facilidade de uso. A empresa ganhou vários
prêmios e Sam pode se aposentar de novo, agora com a
satisfação de ter contribuído e muito para um
mundo melhor.
Acessibilidade em três passos.
Primeiro passo: não exclua ninguém, a não
ser o preconceito. Mesmo que determinadas pessoas não
se encaixem no público-alvo
do projeto, elas devem ter livre acesso. Você não gostaria
de ser barrado numa portaria de um prédio só porque
não faz parte do "público-alvo" do
prédio, não é mesmo? Discriminação
é crime, mas, através do
design, a
discriminação pode se reproduzir da
forma mais cruel e imperceptível possível
,
mesmo aos
olhos do próprio designer.
Designers precisam conscientizar-se
de que o diferente não é ameaçador; pelo
contrário: é com ele que aprendemos coisas novas.
Segundo passo: flexibilize o acesso. Todas
as pessoas são iguais perante à Lei e, portanto,
têm os mesmos direitos. No entanto, a maneira como cada pessoa
goza de seus direitos é diferente, já que cada pessoa tem
um corpo diferente, pensa diferentemente e age diferentemente.
Os objetos e ambientes projetados são os mesmos para muitas
pessoas, mas eles podem ser flexíveis a ponto de suportarem
algumas diferenças básicas. Algumas pessoas
são altas e outras baixas e, para não impedir o
acesso de ambos, devemos ter degraus baixos e portas altas.
Quando a diferença é na percepção sensorial,
devemos oferecer conteúdo alternativo para outros sentidos:
textos
que podem ser lidos
por surdos oralizados ou
sintetizadores de voz
para cegos, por exemplo. Por fim, devemos permitir que as pessoas
acessem com diferentes apetrechos (carro ou bicicleta;
laptop ou
smartphone) e encontrem caminhos
alternativos para chegar onde elas querem (sinalização
de orientação ou balcão de informações;
navegação por menus ou busca por palavra-chave).
Terceiro passo: se coloque no lugar do outro. Teste
o que você projetar.
Baixe o
leitor de telas Jaws
e tente navegar no seu website de olhos fechados,
usando apenas o teclado. Se você não for cego, isso
só vai te dar uma sensação próxima da
que passará um cego de verdade, pois ele não
poderá abrir os olhos quando chegar numa parte confusa. Por
outro lado, eles estão muito mais acostumados do que você
a se virar em situações como essa. Celebre a
diferença observando como as outras pessoas acessam seus projetos
e aprenda com isso. Tome como guia os princípios de
Empatia
e de
Crítica
.
Chamando à responsabilidade
A Acessibilidade é uma área que justifica especialistas
como os meus
colegas da Acesso Digital
,
mas isso não significa que
todo o trabalho deve ser empurrado a alguém que entenda do
assunto. Entender do assunto é responsabilidade social
de todo designer. O
design acessível pode
permitir que as pessoas façam coisas maravilhosas que, sem ele,
seriam impossíveis. A Leda e o MAQ sempre foram vozes
muito ativas nas atividades da Acesso Digital e
nesse vídeo
não foi diferente
.
Quem viu, viu; quem não viu, ouviu; quem não ouviu,
leu e quem não viu, não ouviu e não leu,
não sabe o que está perdendo.
Download completo em vários formatos.
Disponibilizado em: 04/04/2008.